sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Devastação ou Verticalização


Ontem fomos convidados para participar de um Seminário sobre habitação na região de Cidade Ademar e Pedreira. Fiquei bastante preocupada em ver que algumas pessoas ainda acreditam ser o homem o animal mais importante dentro do meio ambiente, e por esse motivo, segundo nosso colega de debate,  o "céu é o limite' , para ele , homem, podendo ele fazer o que quiser, ele pode tudo, até mesmo continuar construindo em áreas de mananciais, mesmo estando nós paulistanos passando por este momento terrível de falta de água. Sugestões de mudanças no zoneamento, permitindo as construções em áreas de mananciais, é impensável para qualquer ser que entenda que os recursos naturais do nosso planeta já estão negativados, e agora o que ainda se mantém tem que ser protegido a qualquer custo. Está difícil compreender que protegendo os recursos naturais, que ainda existem, estamos protegendo a nós próprios, pois não somos o meio ambiente, apenas fazemos parte, e uma parte, que apesar de causar tantos impactos, é extremamente insignificante biologicamente falando. Não compreendemos que vivemos em rede , e que na natureza um ser animado ou não  é completamente dependente do outro. E por não entendermos esta rede hoje conseguimos desequilibrar todos os sistemas formadores de nosso planeta. 
Como seres, ditos inteligentes, apesar dos golfinhos utilizarem 10% do cérebro do que nós, temos que reformar a nossa forma de pensar. Relendo o livro A cabeça Bem-Feita de Edgar Morin, entre as inúmeras frases grifadas por mim, lembro-me daquela que fala que não temos que reformar a educação, mas temos que reformar os nossos pensamentos, isso significa que velhos conceitos em relação não apenas ao meio ambiente, a  tudo que nos cerca tem que ser repensado, temos que criar novos paradigmas, que nos permita viver de forma equilibrada com os demais seres viventes em nosso planeta, e não de forma destrutiva como estamos fazendo. 
No Seminário tinha um senhor do qual gostei muito da fala, desculpe não guardei o nome, aliás sou péssima para isso, quando ele falou sobre a falta de solidariedade entre nós. E solidariedade em um amplo sentido, solidariedade com a vida. Sou a favor da verticalização da comunidades que ocupam espaços ainda não regularizados. Muitos são contra, e a explicação para isso é que muitos já se apropriaram do espaço, criaram vínculos , construíram casas. Quanto ao vínculo e apropriação do espaço entendo e respeito, mas aí a solidariedade, o porque não dividir este espaço através da verticalização , edifícios ou casas sobrepostas, assim aonde mora uma família, poderia morar três, quatro ou mais. Com projetos inteligentes poderíamos assim ampliar espaços verdes, trazer equipamentos sociais para estes núcleos, enfim qualidade de vida para aqueles que já moram e para outros que tem a necessidade de uma moradia, principalmente para aqueles que se encontram em área de risco,  sem a necessidade de devastar outras áreas, principalmente,  áreas de mananciais. Vamos pensar nas área que já estão devastadas, na região da Cidade Ademar e Pedreira tem muitas, já que temos cerca de 170 comunidades ou favelas. Não temos mais áreas disponíveis, é um crime , pensar em  construir nas proximidades da represa Billings, Guarapiranga ou outros lugares necessários para a manutenção das águas, mais do que um crime é burrice, desculpe o palavreado. 
Ao lado temos a comunidade da Av. Braz de Abreu, no Jardim Miriam, casas simples, o que não é a questão, sem planejamento urbanístico, com muitas vielas, de difícil acesso. Pense que talvez ela possa ser transformada com um projeto parecido com a foto que temos no início deste texto. Como será que a comunidade se sentiria após tudo pronto? Como seriam vistos pelos restantes moradores do bairro, que não moram em favelas? Porque hoje, sejamos sinceros, eles acabam sendo invisíveis para muitos, apesar de morarmos todos na mesma região, e pior além de invisíveis, marginalizados, somente porque não tiveram a oportunidade de morar em um local que atenda as normas de uma sociedade burguesa. Vamos pensar nisso? Comentem , debatam somente o diálogo traz a reforma do pensamento. 

Flavia Scabio /  outubro/2014

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